quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

É difícil, vô

Difícil ter visto você tão animado saindo de casa, pensando, como todos nós, que só tiraria uma pedra do intestino;
Difícil lembrar da felicidade em saber que a cirurgia havia sido um sucesso;
Difícil lembrar que você já estava comendo de tudo, no hospital;
Difícil, , lembrar de você empolgado, dizendo que logo voltaria pra casa, rindo, fazendo suas palhaçadas e se emocionando, ao saber que tínhamos atravessado a ponte de ônibus, só pra te ver;

Difícil - muito difícil - lembrar do seu silêncio imposto, na UTI. Porque você estava ali, , mas não estava;
Difícil lembrar do médico falando que seu quadro era complicado, que você não estava reagindo. Porra, você estava tão bem antes!!
Difícil saber que, depois de tudo ter dado certo, uma infecção hospitalar te deixou naquele estado;
Difícil ter me sentindo tão impotente;
Difícil ter tido tanta, tanta fé, ter acreditado com toda força da alma, que você ficaria bom;

Difícil dar força, dizer que estás em um lugar melhor, sem ter certeza de nada, afinal;
Difícil olhar pra minha avó, ver sua tristeza, e ter tanto medo que ela não aguente;
Difícil esse arrastar dos dias;
Difícil saber que, ao acordar, não terei você pra dar 'Bom dia' - e ouvir muitas vezes um 'Boa tarde' seu;
Difícil saber que você não participará da minha formatura, não entrará comigo na igreja, como eu queria;
Difícil saber que não vai durar 114 anos;
Difícil lembrar da sua vontade de viver, da sua vontade de voltar pra casa,
Difícil ver minha família assim, incompleta, arrasada;

E há tanto o que resolver, mas falta força para agilizar soluções de um futuro sem você, porque é como tornar real que não voltará mais;
E dói, dói uma dor que eu não sabia, não queria

Difícil não questionar. E eu nem quero mais, porque não adianta, não muda nada. É melhor compreender, aceitar de uma vez, mas é difícil.

Eu não sei direito o que pedir aos céus. Quero pedir por ele, mas não sei.