E, depois de 27 anos de casamento – dois sem falar com o marido –, ela se perguntava como ele podia estar tão frio, aparentar tanta leveza, seguir a vida do mesmo jeito de sempre. É que ela, esse tempo todo, tinha o coração quebrado em vários pedaços e muitas lágrimas soltas e presas. Falava com os filhos, a mãe, a irmã, os sogros. Com ele, silêncio. Aliás, quase ninguém conseguia conversar com ele, não havia liberdade. Era certo que também não estava feliz, era perceptível, mesmo que pouco, a triteza atrás da armadura.
Tudo estava cinza. A casa não era como antes. E, mesmo quando cheia, com sorrisos e visitas queridas, havia os passos do casamento desolado.
Ele sempre fora orgulhoso, ciumento, quieto. Ela sempre coração e palavras. Mas a gente cansa, a gente sempre cansa, e acaba ficando orgulhosa também. Ninguém quer ser sempre o bobo da história. Mas o que fazer, então? Se nada é dito, como resolver? Ninguém pode obrigar alguém a falar, mas se esse também não quer, a solução voa.
É impossível sair de um casamento ileso; é quase impossível, na verdade, sair de um casamento. Requer muita coragem, confiança em si mesmo. Isso sem contar nas coisas "práticas", como dinheiro, moradia, filhos.
Acontece que o tempo passa, e mágoa corrói até os sentimentos mais puros. E é bem isso que está acontecendo: o tempo, a mágoa.
Se ele desse alguma abertura, se fosse mais de falar, se conseguisse contar seus sentimentos.
Ela tem razão em não querer ir atrás dele, mas se depender dele, dificilmente, as letras serão soltas, o que – mais uma vez- fazer, então? Sinceramente, não sei.
Ela é a minha mãe. Ele é o meu pai. Eu sou alguém perdida e triste nessa história toda.
sábado, 30 de julho de 2011
sexta-feira, 22 de julho de 2011
saber
Minha intuição não falha. Eu sabia, meu bem, sabia que, no fim, seria o mar, e meu coração, e o vento, e um pouco de vodka e eu.
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