terça-feira, 27 de outubro de 2009

Muito

Já olhou o sol hoje? Está tão brilhante que parece estar dentro de mim. Sim, eu também gosto da noite. Adoro, na verdade, e se o céu estiver lindo, cheio de estrelas e com a lua bem redonda, eu fico feliz, respiro leve, mesmo que tenha motivos pra estar pesada.

Ah, sim, eu sei que estrela cadente nada mais é que meteoro, mas não deixo de fazer um pedido a ela.
Também gosto de arco-íris e mais ainda de toda a metáfora que envolve ele. Aquela história de ele vir depois da chuva, coisas boas, depois de ruins. Só não sei se é verdade sobre o pote de ouro depois dele. Nunca fui lá. Você já foi?

Sabe que, às vezes, eu queria ter asas. Não ri, é sério. Diz que não seria legal sair por aí voando, sem destino? Outras horas, queria apenas umas roupas e um violão. E, ah, queria saber tocar violão.

Gosto de perfume doce, pele cheirosa. Olha, cheira meu braço. Bom, né?
E cheiro de flor? E a suavidade dela? Nossa, acho flor coisa linda demais, me encanta. Não gosto de mexer na terra, plantar, mas se vejo um canteiro bonito, um jardim bem florido, paro pra ver, reparar, tocar.

Mas é disso mesmo que estou falando, ué. Tem tanta coisa nesse mundo. E, muitas delas, podemos ver todos os dias e não vemos.

Também gosto de escrever. Ah, sei lá, escrever qualquer coisa. De dentro pra fora, de fora pra dentro. Pode ser algo do mundo, de alguém, de mim. E, às vezes, de soltar o dedo, deixar o lápis correr, colorir o branco do papel, com palavras de mim, com excesso exposto.
Pode parecer sem sentido, pode parecer eu.

É que (sou) gosto de muita coisa. Ah, muita coisa.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Princesa Coração

Era uma vez uma princesa chamada Coração.
Ela, aliada do amigo Cérebro, era sempre muito bondosa e respeitada no reino.

Um belo dia ,não tão belo assim, a Princesa, entediada, inventou o amor pra se distrair e, muito contente, foi contar ao amigo Cérebro, que disse que a ideia não poderia dar certo, e não ajudou a aprimorar o invento.
Ela, muito magoada, prometeu não pedir mais ajuda e nem ser mais aliada.

Foi então que como castigo ,um dos Deuses que observava a história, ordenou que os dois morassem sempre no mesmo lugar, achando que assim, um dia, eles voltariam a concordar.


(mas será?)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sorriso de Marta

Marta era assim, sapeca de sorriso no olhar, olhos cor-do-sol, ao que ela me retrucava não existir. Ora,como não, podia ver a cor do sol no olhar dela.
Reconhecia seus passos de longe, e ao invés de olhar logo, fechava os olhos, e brincava de imaginar seu all star passeando entre as pessoas. Branco, all star branco, ou amarelo por falta de limpeza. Como pode, tão relaxada comprar logo tênis branco.

Gostava de cosquinha na barriga, e de me morder. Eu perguntava se ela era gente ou gato. Ela ria. Ah, o sorriso de Marta. Consigo ouvir e sentir dor no estômago de saudade.

Às vezes, me sentia pai dela, mas sempre cheio de tesão por aquelas pernas grossas e peitos miúdos. Boca molhada, cheiro doce.

Eu ficava vermelho quando alguém na rua elogiava a beleza da minha filha e seus cabelos enrolados. Ela ria-se toda, e me dava um beijo na boca, deixando a mim e a quem perguntou constrangido.

Pela manhã, seu hálito era bom, e eu tinha que me esforçar pra conseguir um beijo, antes dela escovar os dentes.
Adorava tirar meu lençol no frio pra me ver remexer na cama até acordar, e encontrar o sorriso faceiro.

Se dizia forte, segura de sentimentos, mas chorava vendo filmes românticos, que me obrigava a assistir com ela, até que, por fim, quem queria ver era eu.

Deslizava de calcinha pela casa, comia uma maça distraidamente, sem saber como o meu coração andava com ela.
Aparecia com unhas pintadas de coral, azul e até amarelo.
Se fosse a minha filha, eu criticaria, mas era ela, era Marta.

Tinha ímpetos de correr pela rua me carregando. Eu não entendia, nunca entendi, mas a seguia.
Dizia que meu colo havia sido feito pra ela. E havia mesmo.

Um dia, ela não apareceu. Não sabia nada dela. Nem seu endereço, só um número que quando liguei disseram não existir.
Ela decidia me ver, e, de repente, decidiu não ver mais.

Ah, o sorriso de Marta. Pode alguém da minha idade chorar por amor?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Porque não entendo.

Sentimentos têm dessas coisas impulsivas, estranhas. A beleza mora aí, eu sei, mas isso me assusta, assusta muito. E, sabe, eu tenho um medo enorme de tudo isso.

Não entendo ter você, meses atrás de mim, me ligando, querendo me ter novamente, sem eu ligar, sem sentir nada. Tendo certeza que tomei a decisão certa.
E de repente, ter o estômago revirado por falar ao telefone com você.

E, logo em seguida, você me dizer que resolveu seguir sua vida, que tem um projeto,q ue não vai mais me procurar.
Daí que passei três dias, após isso, me esforçando ao máximo pra não pensar em você, não sentir os bichinhos do meu estômago que eu tanto detesto pulando aqui dentro.

E, a cada toque do telefone, eu paralisava. Engraçado, antes, vez ou outra, mandava alguém falar pra você que eu não estava em casa, por não estar com paciência. E agora essa inquietação por sua voz.

Sentimentos têm dessas coisas impulsivas e estranhas.

E, ontem, quando você me ligou, não pude evitar um sorriso. Mesmo na sua fala com pressa, querendo deixar bem claro que só havia me ligado pra falar da lua, o quanto ela estava bonita.
Respirei fundo pra dizer que havia sentido saudades, e gostei quando você disse que também havia sentido, e, por isso mesmo, tinha me ligado. Mesmo que depois você tenha se corrigido e dito que foi só mesmo pela lua que você ligou.

Estranho que você não cabe nos meus sonhos, nunca coube, nunca encaixou.
Não é do tipo que lembra de data de mês (pode parecer bobeira, mas eu acho importante, tá?), me quer o tempo todo, é meio anti-social, não gostava de sair com meus amigos, e nem tem a maturidade que espero que meu príncipe encantado tenha. Mas me liga pra falar da lua :).

É que estou confusa, e não sei mais o que eu quero e nem se querer faz sentido agora ou vai adiantar alguma coisa.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Izabella,

É que eu sou muito orgulhoso, e você bem sabe.
Nunca sigo minha primeira vontade, o primeiro instinto. Sempre penso, e com o pensamento, o orgulho me leva para a segunda vontade, tão certa e tão sem cor.

Mas, talvez, esse seja meu primeiro impulso, e é até minha primeira carta, por isso não sei se sei escrever. Me dou tão bem com os números que até me esqueço das letras, mas mais do que elas, o que está saindo aqui, é sentimento.

Não consigo evitar um sorriso ao imaginar sua cara ao receber essa carta, via correio, do jeito mais antigo e bonito.
Mas não consigo imaginar seus sentimentos. Um pouco de raiva eu sei que você irá sentir, mas espero que não seja muito.
Mesmo sabendo que não tenho direito de esperar isso.

Afinal, são anos e não dias, e não sei mais da sua vida.
Quem sabe não vai ser seu namorado que vai ver a carta antes de você. Quem sabe.
Seu cachorro pode te lamber enquanto você me lê. Você comprou um cachorro? Lembro-me que queria tanto, mas nunca concretizava. Aliás, ainda quer ter um cachorro?

Será que ainda toma só um gole de café pela manhã, e sua cor preferida ainda é coral?
Continua pintando as unhas de vermelho e o cabelo de preto?
Será que ainda pensa em mim? Mesmo que de vez em quando, que passe como um cheiro, uma música, mas será?

Talvez eu nunca saiba a resposta ou você queira vir me contar no meu prédio.
Falando nisso, uma ideia me ocorreu: Você ainda mora no mesmo lugar?
Então, talvez, você nunca leia a minha carta.

Mas, se sim, quero que saiba que eu nunca te esqueci, que nunca mais encostei em lábios como os teus. Que meu coração nunca mais palpitou naquela frequência sua, só sua, feita pra você, pra nós.
E nunca mais precisei ser orgulhoso. Acho que nossos defeitos são usados, especialmente, pra quem gostamos.

Não sei como terminar a carta, então fica assim, sem fim, ou talvez, seja esse. Não sei.

André.