sexta-feira, 28 de maio de 2010

Não me conto

Eu já me cobrei, algumas vezes, um pouco mais de sinceridade no diário – aham, eu tenho diário. aham, eu já me cobrei sinceridade.
Até já me cobrei escrever certas coisas aqui no blog.

Eu sei que tem coisas que não contamos nem a nós mesmos, mas só há bem pouco tempo, comecei a respeitar meu silêncio. Só agora aceito quando, simplesmente, não quero me contar algo, não quero parar, pensar, analisar, deixar doer, se for o caso.

E nem é fugir, fingir que não existe, é só não querer e ponto. Eu não preciso me obrigar a sentir tudo.
Estou devendo a mim mesma uma conversa longa, sentar, ouvir minha própria voz, me cutucar, tirar umas coisas lá do fundo, mas não é pra agora. Eu não quero.
E tudo bem que não queira, eu não tenho pressa, aprendi a respeitar meu tempo. E quando for, que seja com vontade, que faça bem.

Estou em silêncio comigo mesma pra certas coisas e é bom aceitar isso.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

mãos de hoje

E ela se entregou. Mesmo ainda sendo visíveis os cortes de outrora, mesmo com medo.
Ela sabia que iria formar novas cicatrizes, que teria outras lágrimas. Mas estava cansada da vida de vento formando palavras não ditas, de labirintos feito de sentimentos que começavam na nuca.

Dormir sem dizer boa noite já estava lhe sufocando. Seus passos não eram ouvidos.
E por mais agoniado que fosse, agora era sorriso.
Era declaração barata de um futuro inexistente.
Era promessa que não seria cumprida.

Também era carinho nos pés e cheiro de nuvem.
Ela sentada, contava a si mesma, memórias de um passado quase apagado – quase.
Não podia esquecer, não queria correr o risco de acreditar outra vez.
Não queria mais a fé.

E assim, sem querer mais que isso, foi andar de mãos dadas.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Amor de fios brancos

Hoje meus avós completam 60 anos de casamento.
E eu me orgulho de ouvir, de ambos, que fariam tudo novamente, que se casariam de novo.

Cresci ouvindo meu avô dizer, ao ouvido da minha avó, que a amava, e sigo ouvindo até hoje.
Os dois têm uma preocupação um com o outro invejável.

Minha avó sempre foi o equilíbrio, a calma. Sempre fez tudo e nunca reclamou de nada.
Meu avô, sempre fortaleza, quem segurava o braço, quando minha avó despencava.
Passaram por muitas alegrias. Tiveram filhos, têm netos e bisnetos, além de muitas pessoas queridas por perto.
Passaram por tristezas também. Perderem um filho e isso é dor que nunca cura.
Ainda choram ao falar dele.

No sofá, estão sempre de mãos dadas e minha avó espera a hora do remédio do meu avô pra irem dormir juntos, mesmo que esteja com muito sono.
Ela se desespera quando ele tem algum problema de saúde.

O coração dos dois não tem tamanho, tem sempre espaço pra mais um.
Histórias juntos, eles têm muitas. Seus fios brancos têm muito o que contar.
E eu me pego pensando, sempre admirada, em como o amor pode durar. Como pode se tornar algo tão sólido e tão amigo.

Compreensão pra passar por cima dos problemas, canção pra levar a vida, sorriso pra espantar a dor... é a sabedoria de quem sabe amar.