sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Izabella,

É que eu sou muito orgulhoso, e você bem sabe.
Nunca sigo minha primeira vontade, o primeiro instinto. Sempre penso, e com o pensamento, o orgulho me leva para a segunda vontade, tão certa e tão sem cor.

Mas, talvez, esse seja meu primeiro impulso, e é até minha primeira carta, por isso não sei se sei escrever. Me dou tão bem com os números que até me esqueço das letras, mas mais do que elas, o que está saindo aqui, é sentimento.

Não consigo evitar um sorriso ao imaginar sua cara ao receber essa carta, via correio, do jeito mais antigo e bonito.
Mas não consigo imaginar seus sentimentos. Um pouco de raiva eu sei que você irá sentir, mas espero que não seja muito.
Mesmo sabendo que não tenho direito de esperar isso.

Afinal, são anos e não dias, e não sei mais da sua vida.
Quem sabe não vai ser seu namorado que vai ver a carta antes de você. Quem sabe.
Seu cachorro pode te lamber enquanto você me lê. Você comprou um cachorro? Lembro-me que queria tanto, mas nunca concretizava. Aliás, ainda quer ter um cachorro?

Será que ainda toma só um gole de café pela manhã, e sua cor preferida ainda é coral?
Continua pintando as unhas de vermelho e o cabelo de preto?
Será que ainda pensa em mim? Mesmo que de vez em quando, que passe como um cheiro, uma música, mas será?

Talvez eu nunca saiba a resposta ou você queira vir me contar no meu prédio.
Falando nisso, uma ideia me ocorreu: Você ainda mora no mesmo lugar?
Então, talvez, você nunca leia a minha carta.

Mas, se sim, quero que saiba que eu nunca te esqueci, que nunca mais encostei em lábios como os teus. Que meu coração nunca mais palpitou naquela frequência sua, só sua, feita pra você, pra nós.
E nunca mais precisei ser orgulhoso. Acho que nossos defeitos são usados, especialmente, pra quem gostamos.

Não sei como terminar a carta, então fica assim, sem fim, ou talvez, seja esse. Não sei.

André.

2 comentários:

Anônimo disse...

quero ter um andré em minha vida, mas não quero que ele termine sem palavras. Quero que ele termine junto, comigo.

você inventa tremendamente bem!

Victor Borba disse...

Já fui André inúmeras vezes...

Bom texto...como sempre...

Beijos.